06/05/2011

Auto-retrato

Nada como sexta-feira à noite para postar alguma coisa. Ainda mais depois de sentir na pele a mazela social de superlotação de um ônibus intermunicipal, onde os passageiros são obrigados a ficarem em pé e com a possibilidade de movimento apenas na respiração.

O resultado do concurso da Editora UFV saiu e eu ganhei o prêmio de consolação. Meu poema foi classificado mas não ficou entre os três primeiros. Isso demonstra que tenho futuro no ramo, pois além de mostrar que sou ainda mais vanguardista que a banca de professores vanguardistas da UFV ao não ter sido valorizado, este resultado também confirma que pelo menos sei formar frases com sentido e seguindo uma linha de raciocínio, ao contrário dos demais concorrentes que sequer foram classificados. 

Segue o poema que me proporcionou o baixo prazer de se sentir superior, misturado com a frustração de não ter ganhado o dinheiro fácil que sustenta artistas frustrados. Afinal, a minha verdadeira intenção era o dinheiro.




 AUTO-RETRATO

Tremo na cara da dúvida
vomito quando falta controle
desisto enquanto estou tentando
tento quando já desisti.

Engasgo quando mastigo
coloco meus pés nas minhas mãos,
meus olhos, deixo no chinelo,
meu estômago é no lado esquerdo do peito.

Acordo no meio da noite
costumo ficar sem leito,
a La golpe-fantasma,
encolho sem travesseiro.

Me aproximo indiretamente
maquino encontro casual
esperneio pra vir pro meu lado
derrota sem ir pro final.

Engravido antes das beiras
e pairo na falta de métrica.

Pelo menos também tenho sonhos,
desmancháveis nos sonhos alheios
me expresso tossindo seco
vítima corpo-a-corpo
confesso sem (nenhum) receio.

Assim, eis meu retrato:
meu quase-sorriso metálico
meu corpo esquelético
meu rosto cheio de pêlo
minha testa sem cabelo.
      

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